Brasil seria um dos "vencedores em caso de bolha de carbono"
Relatório aponta que o país está bem posicionado para tirar proveito do cenário no qual empresas e nações não poderão explorar reservas de petróleo e carvão no futuro devido a tratados climáticos internacionais
Investir em um mundo no qual o aquecimento global não ultrapasse os 2oC terá vencedores e perdedores – e o Brasil pode estar no local certo para sair na frente”, afirmou Luke Sussams, pesquisador sênior do Carbon Tracker.
A entidade, uma organização sem fins lucrativos que procura incentivar mercados de capital a investirem em ações climáticas, divulgou nesta semana o relatório “Unburnable Carbon: Is Brazil avoiding the carbon bubble?” (algo como, Carbono Inutilizável: Estará o Brasil evitando a bolha de carbono?).
Produzido em parceria com a SITAWI – Finanças do Bem, que trabalha para ajudar empresas que desejam investir em atividades sociais, o documento aponta que o Brasil tem tudo para ser um dos grandes vencedores se políticas climáticas impedirem nações e empresas de explorem todas as reservas de combustíveis fósseis disponíveis, um cenário que foi batizado de bolha de carbono.
Segundo a teoria do Carbon Tracker, entre 60% e 80% das reservas de carvão, petróleo e gás natural apresentadas pelas grandes companhias na verdade nunca poderão ser aproveitadas por causa de tratados climáticos internacionais. Assim, o valor dessas empresas estaria supervalorizado, representando uma ‘bolha’ financeira que pode vir a estourar, causando uma nova crise econômica mundial.
Se isso realmente se concretizar, o Brasil apresentaria grandes vantagens competitivas, já que possui uma matriz energética renovável e não tem uma economia baseada na exportação de petróleo e carvão.
Além disso, a produção de petróleo no país estaria dentro do que seria “utilizável” das reservas mundiais, pois apresentaria um custo abaixo dos US$ 50 o barril (veja abaixo). O relatório explica que em um planeta no qual apenas uma parte das reservas serão utilizadas, é natural imaginar que somente as mais baratas serão exploradas
Dessa forma, o Brasil não seria tão afetado pela bolha de carbono e poderia se aproveitar dessa situação para se consolidar como um dos motores da economia mundial.
“O Brasil pode lucrar em um mundo no qual o carbono seja controlado. Incentivos para que o país desenvolva sua economia no sentido do baixo-carbono podem assegurar essa condição”, explica o documento.
Porém, o Carbon Tracker afirma que o governo deve exercer a função de impedir que a exploração do pré-sal se dê muito rapidamente, o que poderia tornar a economia brasileira mais dependente do petróleo e fazer com que parte dessa reserva se torne “inutilizável”.
“O Estado, que terá uma grande atuação na exploração do pré-sal, uma vez que possui o controle acionário da Petrobrás, precisa evitar que o excesso de velocidade para buscar as reservas mais profundas aumente os custos para acima dos US$ 50”, alerta.
Outro problema que pode minar o potencial brasileiro é o enfraquecimento do setor dos biocombustíveis. Para ser competitivo internamente, o etanol precisa custar no máximo 70% do preço da gasolina. Porém, o governo tem controlado o valor da gasolina como uma medida para diminuir a inflação, ação que seria a principal causa para o fechamento de mais de 40 instalações de etanol nos últimos quatro anos.
Uma solução para esse problema seria a criação de melhores condições para a exportação, principalmente para os Estados Unidos. A administração do presidente Barack Obama recentemente adotou um padrão mais exigente para as emissões veiculares e o uso de etanol importado tem crescido.
Já em 2013, os EUA apresentam a necessidade de importar cerca de 15,9 milhões de barris de etanol brasileiro, um aumento de 75% com relação a 2012. No entanto, o relatório, citando Plínio Nastari, presidente da empresa de consultoria Datagro, aponta que dificilmente o Brasil terá a capacidade de atender a essa demanda. O que deixa claro que é preciso melhorar as condições do setor.
O Carbon Tracker recomenda ainda que o país siga algumas orientações gerais para que tire vantagem de sua posição privilegiada com relação à bolha de carbono.
Para os reguladores financeiros, o relatório aconselha que exijam que as companhias informem as emissões potenciais associadas à exploração de reservas de combustíveis fósseis, assim como deem explicações de como alterarão seus modelos de negócio caso acordos internacionais limitem as emissões de seus setores.
Já para os investidores a recomendação é obrigar que os reguladores, analistas e agências de risco forneçam informações claras sobre os riscos climáticos das empresas, facilitando assim a tomada de decisão de onde e quanto investir.
O Unburnable Carbon: Is Brazil avoiding the carbon bubble” pode ser acessado aqui e em breve possuirá uma versão em português.